Escrevia Baptista Bastos, no seu livro «O Cavalo a Tinta-da-China», que as palavras, tal como as pessoas, são gregárias, precisam umas das outras…para que tudo faça sentido. É verdade, para as pessoas e para as palavras. Embora ainda seja mais para as pessoas do que para as palavras.
Nós, pessoas, só nos completamos nos outros. Enquanto há palavras que têm tanta força que se bastam a si próprias, que não precisam nem de frases nem de pontos, nem de composições nem de nada. São aquilo e já está! Encerram um significado forte, forte mas não necessariamente objetivo. Porque uma palavra para mim pode não querer dizer a mesma coisa para si. Até porque muitas vezes as palavras levam-nos num ápice a alguém que conhecemos e que representa bem o seu significado, e isso garante muitas nuances em cada termo.
Por exemplo, a palavra “sensato”. Curiosamente esta faz-me lembrar mais os que têm falta de sensatez do que o contrário. Há tantos por aí…deve ser desta época conturbada em que vivemos! E a palavra “inteligente”? Confesso que sempre me deixou desarmada porque tenho dúvidas sobre a sua aplicação 100% a uma mesma pessoa. Já tenho apanhado desilusões!
A palavra “verdade” é uma das que eu mais aprecio. Só que é das mais subjetivas. O que é a verdade? Onde está a verdade? Já a “esperança” é tida em moldes muito idênticos por toda a humanidade nestes dias que são os nossos. Esperança que todo este mal termine e que por fim o Homem domine o vírus.
E por falar nisso, há uma palavra nova no nosso vocabulário diário: “confinamento”! Passou a fazer parte das conversas de café (quando o confinamento acabar e conseguirmos voltar todos a ter conversas de café!). Uma das mais discutidas de sempre é a palavra “importante”. Os critérios do que é importante para uns e para outros variam muito, e tantas vezes por causa dela se discute, porque cada um gostaria de fazer prevalecer para os outros as coisas que são de facto importantes…para si.
Também há as palavras cliché, repetidas até à exaustão por todas as gerações. “Amor” é uma delas. Mas alguém tem coragem de dizer que lá por ser banal não é das mais determinantes? E as que saíram de moda, também existem…quantas vezes se lê a palavra “renúncia” nas frases de uma modernidade que se quer sempre apelativa e glamourosa?! Aí não há lugar para sacrifícios e renúncias, embora na vida real bem conhecemos estes vocábulos.
Uma última palavra mas nem por isso menos controversa e que me provoca mixed feelings: “felicidade”. Este é o maior anseio de todos e de cada homem. Em cada época os ideais de felicidade foram sendo diversos porque as metas das sociedades foram sendo diferentes. Isso é válido para a Humanidade e para mim também. O passar dos anos fez com que a “felicidade”, agora para mim, seja mais pura, mais simples, menos romântica, e menos material também. Não depende de nada fora de mim, nem de viagens nem da minha capacidade (maior ou menor) de comprar coisas; nem das pessoas que passam ou que ficam na minha vida. Vai mais além de tudo isto!
E para si, quais são os sinónimos de “felicidade”? António Carlos Jobim também nos fala desta palavra…cantando.
A Felicidade – António Carlos Jobim