
Inesgotáveis são as formas de entender o mar.
Podemos vê-lo na perspectiva do pescador que conhece os seus segredos e que dele precisa para viver ou do surfista que reconhece as marés e a ondulação. Mas também podemos saber dele pelos olhos dos poetas, que nele encontram idiomas e os mistérios da linguagem, servindo de berço para os versos, pelos navegadores que dele sentem falta ou pelos biólogos e mergulhadores que estudam e preservam a sua biodiversidade, fazendo por conhecer quem lá vive. Ficaríamos aqui uma tarde.
Mas há um estado que transpõe e atravessa todas estas dimensões de entendimento: o respeito. O mesmo respeito para todo o mar, sem distinções nem meias medidas. Sem facilitismos ou regalias. O respeito pelo mar deveria ser disciplina. Doutrina obrigatória, modo de estar e conhecer. Deveria ser o eixo da educação, substância do ensinamento.
Todo aquele que se sente bem no mar não o sabe explicar. Outra coisa não se esperaria. É difícil defini-lo, é inquietante não conseguir deixar em palavras ou imagens a satisfação do mar. O mar é um lugar de metáforas que ajudam a contar os dias e os seus dissabores. Veja-se o caso de um naufrágio onde muitas vezes nos sentimos parte responsável, como a incerteza do alto-mar onde passamos grande parte das horas mais atribuladas. Vamos passando por processos, onde umas vezes somos náufragos, outros comandantes.
Da mesma forma que olhamos para cima e tentamos desvendar o céu perguntando se haverá por aí outro tipo de vida, o mesmo deveríamos fazer no sentido oposto, olhando o fundo dos fundos. E a resposta é óbvia: só pode. Seria muito pouco tudo o resto, que é tanto.
Desenganem-se aqueles que acham que o mar é água e as suas longas extensões.
O mar é resposta.