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11 maio 2022
13:09
Agência Lusa

Crianças urbanas desconhecem ecossistemas aquáticos e sua biodiversidade

Crianças urbanas desconhecem ecossistemas aquáticos e sua biodiversidade
Imagem de Ben Kerckx por Pixabay
Dados constam de um estudo liderado por uma investigadora da Universidade de Coimbra.

As crianças dos meios urbanos têm "um grande desconhecimento" relativamente aos ecossistemas aquáticos e à sua biodiversidade e medo de contactar com a natureza, revelou um estudo liderado por uma investigadora da Universidade de Coimbra.

O estudo hoje divulgado, que é liderado por Maria João Feio, do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Universidade de Coimbra (UC), centrou-se na avaliação do impacto de um projeto ambiental de continuidade com crianças dos 06 aos 10 anos e foi realizado no âmbito do projeto CresceRio.

Este projeto, que envolve ecólogos, sociólogos e artistas, "tem como objetivo educar as crianças para a importância dos ribeiros urbanos, da sua biodiversidade e serviços e, simultaneamente, chamar a atenção da sociedade para a necessidade da sua recuperação", referiu a UC.

No estudo em causa, a equipa avaliou o impacto de cinco atividades realizadas ao longo de dois anos letivos (1.º e 2.º anos de escolaridade) com uma turma da escola da Solum, durante as quais conheceram ribeiras urbanas de Coimbra e uma da serra da Lousã.

Nessas ribeiras, "caracterizaram a vegetação, amostraram invertebrados bentónicos e microalgas e analisaram as perturbações antropogénicas no meio envolvente".

Também realizaram uma aula de laboratório "para identificação da fauna e flora, com microscópios óticos e lupas binoculares, e calcularam índices de qualidade ecológica dos rios".

Segundo o estudo, "os medos revelados pelas crianças foram diminuindo progressivamente ao longo do projeto, à medida que o seu conhecimento sobre os ecossistemas foi aumentando".

"No final, os alunos eram capazes de dizer os nomes de árvores ripárias, plantas aquáticas e invertebrados e identificar os maiores problemas destes sistemas", acrescentou.

Uma das conclusões retiradas foi que, nestas idades, é necessário tempo "para que os resultados se manifestem e tenham um benefício duradouro, por oposição a ações de sensibilização pontuais".

"Demonstrámos o efeito do contacto regular das crianças com a natureza. Não só ganham uma importante sensibilidade que lhes permite distinguir o que está bem e mal nos ecossistemas aquáticos, contribuindo assim para a sua preservação, como também perdem o medo do contacto com os animais, a água e a terra, que demonstravam no início, reaproximando-se da natureza", considerou Maria João Feio.

No entender da investigadora, os resultados mostram que "é essencial promover o contacto das crianças com a natureza e transmitir-lhes conhecimentos sobre os ecossistemas e biodiversidade, de forma a promover comportamentos sustentáveis mais tarde".

"Este processo deve começar cedo e ser contínuo. Introduzir temas ligados à ecologia com aulas práticas e de campo no currículo no primeiro ciclo é fundamental", acrescentou.