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31 janeiro 2023
13:37
Agência Lusa

Bloco apresenta queixa na PGR sobre ilegalidades na contratação de mão de obra migrante

Bloco apresenta queixa na PGR sobre ilegalidades na contratação de mão de obra migrante
Miguel A. Lopes
Catarina Martins denunciou 50 casos de exploração através de empresas angariadoras.

O Bloco de Esquerda apresentou hoje uma queixa na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra alegadas ilegalidades na contratação de mão de obra migrante através de empresas angariadoras, denunciando a existência de mais de 50 casos.

"Não basta dizer que as coisas estão mal, é preciso que haja investigação. As grandes [empresas] agrónomas do nosso país são objetivamente cúmplices ou vivem do trabalho de angariadores de mão de obra que não cumprem a lei. E este é um fenómeno que atinge milhares de pessoas e que não pode continuar impune. Tudo o que nós sabemos, entregámos à Procuradora-Geral da República", afirmou a coordenadora do BE, Catarina Martins.

Sublinhando o acompanhamento que o partido tem feito da exploração de mão de obra migrante na agricultura, com especial peso no sul do país, a líder bloquista realçou o "enorme número" de violações das leis laborais e dos direitos humanos e notou que as "denúncias são persistentes e devem ser investigadas", além do trabalho efetuado no parlamento para dar uma resposta política a estas situações.

"As maiores empresas agrícolas do sul do país - gigantes nacionais e multinacionais -- recorrem de forma reiterada em épocas de pico a angariadores de mão de obra que não cumprem o básico dos direitos humanos e dos direitos do trabalho a que o nosso país obriga", observou, acrescentando que os casos hoje apresentados na PGR estão ligados na sua maioria à vaga de imigração timorense mais recente.

De acordo com Catarina Martins, existem muitos casos de contratos feitos com angariadores de mão de obra que já estavam em Portugal e cuja ação incidia sobre outras nacionalidades, mas também de casos de novos angariadores associados a novas vagas de migrantes que chegaram ao território nacional nos últimos anos. Simultaneamente, elencou diversas violações ao nível dos direitos destes trabalhadores.

"Tivemos acesso a dezenas de contratos de trabalho que preveem horários de trabalho acima de 60 horas, em que não é pago o mínimo que é previsto por lei, em que não há uma única pausa semanal. Tivemos relatos de situações em que as pessoas lhes veem retirado à cabeça o pagamento que era suposto receberem para pagarem o alojamento onde são obrigadas a ficar e que têm condições infrahumanas, de pessoas que ficam sem os seus documentos", contou.

Embora tenha reconhecido que já houve investigações judiciais a produzirem resultados, a coordenadora do BE considerou que a atuação sobre este problema deve refletir-se também a nível social, onde identificou uma "agressividade" no acolhimento destas pessoas, e político-económico, com a normalização das más condições dadas aos migrantes e que rotulou como uma "irresponsabilidade política".

"Devemos pensar se tem sentido a forma como as instituições portuguesas -- das forças de segurança às repartições de finanças ou ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras -- lidam quotidianamente com estas pessoas e que fazem que, depois, se sintam inseguras na altura de fazer valer os seus direitos", explicou, resumindo: "É fundamental -- nomeadamente no Alentejo -- não só encontrar soluções de habitação digna, mas até soluções de serviços públicos que consigam servir toda a população".
 

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