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17 fevereiro 2023
07:00
Gonçalo Palma

White Stripes: o riff do século faz vinte anos

White Stripes: o riff do século faz vinte anos
Stephen Chernin (Associated Press)
'Seven Nation Army' foi publicado a 17 de fevereiro de 2003.

Aquele que é talvez o riff do século está no domínio público há 20 anos. O single dos White Stripes, 'Seven Nation Army', foi lançado a 17 de fevereiro de 2003. O tema tem um riff inicial que é hoje universal e que se tem propagado aos mais diversos ambientes: desde cânticos em estádios de futebol a buzinões de cruzeiros.

O autor do riff é Jack White, o vocalista e guitarrista dos White Stripes, que dividia a execução musical com a baterista e ex-mulher Meg White. 

Vejamos as fases de expansão de um riff e de um tema cuja fama talvez tenha ultrapassado a dos próprios White Stripes.

A génese
O riff tem a curiosidade de ter a ilusão sonora de baixo, quando na verdade esse som vem de um efeito de pedal de uma guitarra semi-acústica. Quando lhe surgiu um riff num ensaio para um concerto na Austrália em 2002, Jack White pensou em guardá-lo para um improvável tema de James Bond. Outras ideias guiaram Jack White na composição de 'Seven Nation Army' como a idealização de escrever um tema blues para o século XXI. A letra é sobre os falsos boatos e a forma como uma pessoa reage a eles. O título provém de outra ilusão sonora: sempre que em miúdo Jack White ouvia Salvation Army, soava-lhe a Seven Nation Army.

I'm gonna fight 'em off/A seven nation army couldn't hold me back

O lançamento
'Seven Nation Army' é escolhido como o single de avanço do álbum "Elephant". O tema sai a 17 de fevereiro, várias semanas antes do longa-duração, que é colocado no mercado a 1 de abril. Foi acima de tudo Jack White que acreditou em 'Seven Nation Army' como o tema principal para promover o quarto álbum da dupla norte-americana. O videoclipe do tema é realizado por outra dupla, Alex & Martin, e satisfaz o desejo de Jack White que é a imagem da banda: apenas três cores, o preto, o vermelho e o branco. Nessa predileção pelo número três, vemos no vídeo uma sucessão caleidoscópica de triângulos onde se movem as figuras de Jack e Meg White. No mês do lançamento de "Elephant", os White Stripes fazem igualmente uma semana de residência no talk-show diário da NBC, "Late Night with Conan O'Brien".

 

As reações
O riff de 'Seven Nation Army' era já em abril de 2003 um clássico instantâneo ao vivo, que causava imediata euforia nas grandes massas de fãs, tal como aconteceu no concerto desse mês no festival de Coachella(na Califórnia) . Rapidamente, 'Seven Nation Army' se destaca como um dos muitos pontos altos dos concertos dos White Stripes, incluindo nos grandes festivais da altura, como o Primavera Sound (de 2003) ou o Festival de Reading (de 2004). Seven Nation Army ainda é hoje o monstro amigo de Jack White nos seus concertos em nome próprio, sempre que o toca.

 

Os prémios
'Seven Nation Army' tornou-se um convite para os White Stripes estarem presentes nas galas de prémios mais mediáticas em 2003 e 2004. Se nalgumas cerimónias, foram só nomeados, como nos American Music Awards e nos Billboard Music Awards, noutros eventos puderam subir ao palanque para levantar prémios, como um MTV Video Music Award, um MTV Europe Music Award e o NME Award de Single do Ano. Mas a cerimónia mais rentável daquele período foi a dos Grammys que celebrava o melhor de 2003, e que valeu duas grafonolas douradas aos White Stripes, uma diretamente associada a 'Seven Nation Army,' distinguida como Melhor Canção Rock, outra para a qual terá contribuido, na categoria de Melhor Álbum de Música Alternativa, para "Elephant".

 

Nos recintos desportivos
O riff de 'Seven Nation Army' foi como a propagação de um vírus benévolo nos estádios de futebol. A passagem do tema num dos bares onde se concentravam adeptos do clube belga FC Brugges, antes de um jogo da Liga dos Campeões com o AC Milan em 2003 agarrou-se aos ouvidos daqueles fãs, que começaram a cantar o riff em pleno estádio, tornando-se um cântico dos adeptos do emblema nos anos subsequentes. Sempre que o Brugges marcava um golo, os aficcionados cantavam o tal riff. Até que um dia, esse cântico alastrou-se aos adeptos de outro adversário italiano, o AS Roma, quando se cruzaram com o Brugges na Lida dos Campeões, em 2006. A expansão do cântico tornou-se viral em Itália nesse ano, em que o país se torna tetracampeão do mundo de futebol. As comemorações eufóricas com os jogadores foram feitas ao som do riff de Seven Nation Army. A partir daquele momento tão mediático, o cântico do riff mundializou-se. Hoje, em Portugal, é comum ouvir-se os adeptos a celebrarem golos a entoarem o que os italianos chamam de Po Po Po Po Po Po Song. O riff de 'Seven Nation Army' está tão enraízado nos estádios de futebol, quanto canções dos Queen como 'We Are the Champions' e 'We Will Rock You'.
Hoje, noutros desportos e noutro tipo de recintos, ouve-se 'Seven Nation Army' e sobretudo a entoação do riff, como acontece nas ligas norte-americanas da NBA e da NFL.

 

Nas ruas e até no mar
'Seven Nation Army' ouve-se frequentemente na animação de ruas em todo o mundo, com os mais variados corpos instrumentais, incluindo formações de trompas. Também junto aos portos, já aconteceu navios de cruzeiro buzinarem o riff do tema dos White Stripes.

 

Na política
As ações de campanha política são sempre permeáveis aos grandes fenómenos populares de músicas. Mas o riff de 'Seven Nation Army' pegou mais do que se imaginava. Multidões de pessoas habituaram-se a cantar o nome do antigo líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, que se habituou àquele tipo de manifestação.
O tema também foi tocado em campanhas televisivas, como nas últimas eleições presidenciais norte-americanas, a favor de candidatos como o democrata Bernie Sanders. 

 

Versões
'Seven Nation Army' cedo motivou numerosas versões por outros artistas. Os eletro-psicadélicos Flaming Lips já o tocavam no próprio ano de nascimento do riff, em 2003. Gente tão diferente como os Pretty Reckless, os Audioslave, Kelly Clarkson, os Black Eyed Peas ou os Maroon 5 tocaram repetidamente a canção dos White Stripes. DJs de renome levaram para os pratos o riff de 'Seven Nation Army', como David Guetta ou Fatboy Slim. A música de 2003 tem conhecido os mais variados formatos: em standards jazzísticos, um dedilhado numa espécie de harpa coreana (gayageum), em coros femininos ou até por mais de mil músicos dentro de um pavilhão em Cesena, na Itália.

 

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