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15 dezembro 2023
13:34
Agência Lusa

Homens acham que tarefas domésticas são repartidas mas nem todas as mulheres concordam

Homens acham que tarefas domésticas são repartidas mas nem todas as mulheres concordam
PIXABAY
Conclusão de um relatório sobre parentalidade do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.

Cerca de 90% dos homens inquiridos num estudo sentem que partilham responsabilidades pelas tarefas de cuidado em casa, mas apenas 61% das mulheres sentem isso, concluiu um relatório sobre parentalidade do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.

O relatório refere que 43% dos homens que responderam ao inquérito concordam e 38% concordam plenamente que se sentem tão responsáveis pelas tarefas de cuidado quanto a outra pessoa, mas apenas 61% das mulheres afirmou sentir o mesmo em relação à outra pessoa com quem partilha o cuidado.

“Pode haver uma sobrevalorização dos homens relativamente à corresponsabilidade e podem achar que estão a participar mais [nas tarefas de cuidado] do que na verdade o estão a fazer”, disse à agência Lusa a investigadora Tatiana Moura, uma das autoras do relatório "A Situação da Paternidade e do Cuidado em Portugal 2023”.

O relatório e as suas conclusões são apresentadas no sábado, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, durante o primeiro fórum “Masculinidades em Perspetiva”, organizado pela Men Talks, em parceria com o Observatório das Masculinidades (do CES) e os mestrados em relações internacionais e sociologia daquela faculdade.

O inquérito, realizado entre fevereiro e maio, é desenvolvido pela Equimundo – Center for Masculinities and Social Justice (dos Estados Unidos), que lança um relatório global de dois em dois anos, incluindo desta vez Portugal nos países analisados.

O inquérito foi aplicado a um total de 809 pessoas e, “apesar de não ser representativo da população nacional”, permite ter uma ideia da evolução da paternidade e do cuidado no país, realçou Tatiana Moura.

Apesar de parecer haver uma perceção errada por parte dos homens sobre a distribuição das tarefas em casa, a também coordenadora do Observatório das Masculinidades salientou que os dados apontam para “um avanço”, sinalizando que os resultados do inquérito podem demonstrar uma evolução na “vontade de fazer” e de participar por parte dos homens.

“Há uns anos, [os homens] não afirmariam sequer essa vontade de ter mais tempo. Há uma construção de masculinidades hoje em dia, na faixa dos 40 anos, que é diferente da anterior, com os homens a mostrarem vontade em cuidar mais e em terem direito a passar mais tempo com as suas crianças”, salientou.

Para além de haver um desfasamento entre o que as mulheres e os homens inquiridos sentem em torno da repartição das tarefas de cuidado, o estudo nota também que as mulheres acabam por dedicar mais horas diárias ao cuidado dos filhos e a tarefas de limpeza.

No caso do cuidado com os filhos, 21% das mulheres referem que dedicam mais de seis horas diárias nessas tarefas, contra 7% dos homens, com a maioria dos pais a referir que dedica entre uma a duas horas diárias a esse tipo de tarefas, contou a investigadora.

Tatiana Moura salientou que a grande maioria das mães e pais (73% e 79%, respetivamente) referem não ter tempo para o cuidado dos filhos ou filhas, justificando-o com o peso “muito grande das horas de trabalho” fora de casa.

O inquérito debruça-se também sobre o uso da licença parental no país, em que constata que continua “a haver uma percentagem que não usufrui da licença na totalidade”, o que acaba por se dever a questões de precariedade, receio de perder o emprego ou de não progredir na carreira, assim como o facto de a licença não ser paga a 100%, aclarou a investigadora.

“É muito interessante porque, quando perguntamos sobre a vontade e disposição para uma licença adicional, mais de 90% defenderiam essa questão”, notou, defendendo que as licenças deveriam ser pagas a 100% e obrigatórias.

Sobre cuidados a pessoas idosas ou com deficiência, 75% dos inquiridos referiu que não tem tempo para realizar esse cuidado.

O programa do fórum "Masculinidades em Perspetiva" pode ser consultado em: https://www.ces.uc.pt/pt/agenda-noticias/agenda-de-eventos/2023/forum-masculinidades-em-perspetiva/programa

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