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31 janeiro 2024
11:45
Redação

"From Me To Her" é o álbum de estreia de Charli Elle

"From Me To Her" é o álbum de estreia de Charli Elle
DR Foto Promocional
A cantora e compositora apresenta-o ao vivo a 1 de fevereiro no Tokyo, em Lisboa.

O álbum que assinala a estreia nos discos de Charli Elle (Carlota Magalhães) chama-se "From Me To Her" e tem edição agendada para o dia 2 de fevereiro

É um disco mas também é uma carta que a Charli do presente escreve à Charli do passado, com uma série de lições de vida e reflexões que a artista insuflou com a soul que carrega na voz, misturando-a depois com uma interessante diversidade de sons que atravessa as 12 faixas que a cantora quis reunir neste primeiro trabalho. 

A 1 de fevereiro, Charli Elle atua no bar Tokyo, em Lisboa, para apresentar ao vivo cada uma das canções. Como nos disse, será uma noite especial cheia de surpresas, festa, amigos e alegria ou não fosse o concerto que celebra a edição do seu primeiro disco.


Sentes o impulso de compor desde muito nova. Como é que esse impulso criativo se foi desenvolvendo?
Comecei a ter aulas de canto aos oito anos. Foi nessa altura que comecei a alimentar o bichinho da música. Rabiscava algumas coisas mas nada de especial. Aos treze anos, é que compus a minha primeira canção completa. Fiz essa canção depois da morte da minha bisavó. Foi uma pessoa que me marcou imenso e foi esse momento que me levou a compor uma canção. O bichinho já estava em mim, mas ainda não era capaz de o fazer. Só o fiz quando perdi a minha bisavó. 

Tens uma relação com a composição muito visceral, não é? O que escreves parece estar muito conectado com o que sentes...
Sim. O meu álbum é autobiográfico. Reúne uma série de momentos que vivi e tudo aquilo que esses momentos me fizeram sentir. Peguei nas coisas que realmente me marcaram e transformei-as em canções. Há temas que remontam a 2016, 2017. Saiu tudo de uma grande variedade de sentimentos, de emoções e de experiências. que vivi desde essa altura até há cerca de dois anos.   

O álbum chama-se "From Me To Her", sendo que o "me" és tu nesta fase da tua vida e o "her" és tu quando eras pequenina. São vivências que queres partilhar com quem eras em criança. Com que intenção?
Este álbum é como se pudesse ter voltado ao passado para dar conselhos ao meu eu pequenino. É como se entregasse uma carta à pequena Charli, que ainda não sabia como é que a vida se iria desenrolar, o que iria passar. Não sabia que teria de ser forte em muitas situações e teria de ter empatia noutras. Se pudesse ter preparado a Charli para o futuro, teria sido com este álbum. Como se pudesse dizer-lhe: 'passaste por isto tudo, mas vai ficar tudo bem. Aprendeste lições e cresceste'. Este álbum é essa carta.   

E que lições é que destacas?
Aprendi a conseguir ser feliz sozinha. A encontrar alguma calma na solidão. Também aprendi a ser mais empática, a entender melhor os outros. É, no fundo, uma lição de força. Todos nós passamos por situações que testam os limites da nossa força. Acho que a mensagem principal é a de que nós conseguimos ultrapassar tudo. Tudo passa. Só temos de continuar a fazer o nosso caminho sem nos esquecermos de usar o fogo que arde dentro de nós para ultrapassarmos esses momentos. 

Como é que essa aprendizagem te ajudou a encontrares-te de uma forma mais profunda?

Como boa sagitariana que sou, vivo tudo de uma forma muito intensa. Continuo a viver dessa forma mas agora com outra calma. A calma que o tempo e a vida me trouxeram. Às vezes, é preciso parar e refletir sobre as experiências que vivemos, sobre as reações que tivemos em determinadas alturas. Faço isso com as minhas letras, por exemplo. Olhando agora para certas canções e não estando a viver o momento, consigo perceber quando estava bem ou quando falhei. Perceber onde possa ter exagerado ou em que situação poderia ter exagerado mais. É quase como se estivesse a observar todas aquelas letras e emoções por um telescópio, de uma forma mais lógica e muito pragmática.    

Há uma canção neste disco, a 'WW3', que fala numa guerra interior. Já assinaste o tratado de paz?
Eu acho que sim. Acho que estou numa fase da minha vida em que não tenho espaço para guerras. Outra vez como boa sagitariana que sou, quando é preciso comprar uma, por coisas importantes, estou lá para isso. Mas acho que tudo o que tinha para resolver nessa fase "em que estava em guerra" está resolvido. Encontrei uma paz que faz com que não tenha mais espaço para esse tipo de guerras. 


"Em todo o disco, o tema central, é a mulher e a sua condição na sociedade", lê-se na descrição que apresenta o disco à imprensa. Que condição é essa em 2024 e no contexto em que vivemos?

Adoro falar sobre qualquer tipo de injustiça no geral. São temas e lutas que me interessam bastante. Como mulher, essa causa tem uma importância especial. Ainda assim, comparativamente ao que viveu a minha avó ou mesmo a minha mãe, estamos numa situação completamente diferente. Mas também acho que continua a haver luta pela frente. Há razões para lutar enquanto houver casos de violações, casos de violência contra a mulher ou casos de assédio. Enquanto houver desigualdades no meio laboral. Enquanto eu tiver amigas que recebem menos do que os homens. Está melhor mas não está, nem de perto nem de longe, resolvido. 


E que outras questões te inquietam?
Neste momento, tenho muito receio pelo futuro dos jovens no mundo em geral. Fico inquieta com as guerras muito literais que estão a acontecer neste momento. Os casos de genocídio que estamos a ver no mundo. Ver isto tudo a acontecer deixa-me muito triste. Deixa-me triste não poder fazer nada a não ser compor canções. Em Portugal, estou preocupada com o futuro dos jovens. E também estou preocupada com as possíveis forças que nos podem governar e as consequências que isso poderá ter para a minha geração e para as que vêm a seguir à minha.

Que outras canções é que destacas neste álbum?
Há uma que eu considero ser a vírgula do disco porque, mesmo em termos sonoros, é bastante diferente do resto. Estou a falar da canção 'Black Chevrolet'. É a minha pequena jornada pelo country soul. Também é a perspetiva de uma mulher sobre o abuso de álcool e os danos que esse abuso pode provocar numa família. É sobre uma mulher que tem um relacionamento problemático que parece não ter fim. O tema aborda isso, embora de uma forma menos direta. Já a canção 'Bon Voyage' é um bocado o oposto. É uma faixa mais leve, que fui buscar ao meu lado mais ligado com o teatro musical. Gosto muito de comédia e de teatro musical. Aliás, cheguei mesmo a estudar teatro musical. É uma canção que tem esse lado da comédia. Fala da liberdade de uma mulher poder escolher com quem quer estar, ser o que quiser, quando quiser e onde quiser. É um tema importante para mim. Destaco ainda o tema 'Wasting Time' que foi escrito num ponto mais profundo de uma depressão. Fala sobre a sensação de estarmos a desperdiçar tempo quando não estamos no nosso melhor estado e ainda assim de não conseguirmos sair desse sítio. É horrível sentir que queremos fazer coisas quando estamos nesse estado, sobretudo para um músico ou uma mulher. Em ambas as condições, parece que o tempo é limitado para se fazer algo, chegar a algum lado. Há sempre sensação de limite de idade.     

E como é que descreves a personalidade do álbum em termos sonoros?
O fio condutor do disco é o soul da voz. Tal como este álbum é uma autobiografia, também gosto muito de fazer música diferente. Gosto de muitos estilos diferentes. A linha condutora do disco é o soul mas também questiono o que seria o soul se fosse mais pop, mais songwriter, mais indie, mais rock ou mais country. Todas as canções referem-se a momentos diferentes da minha vida, com atmosferas diferentes e que foram vividos em países diferentes. Sonoramente também fui buscar elementos que se relacionam com cada história vivida. É dessa forma que se gera a canção e o estilo da canção.  

E qual é a sensação de editar um álbum de estreia?
Estou super ansiosa. Quero muito que as pessoas oiçam este trabalho, até porque foram muitos anos a criá-lo, como se fosse uma criança que finalmente vai ver a luz do dia. É tipo a gestação de um elefante, de 22 meses. (risos) Estou muito feliz por finalmente estar a lançar o álbum. Também quero muito editar o disco para depois lançar coisas novas. 

E vais apresentá-lo no dia 1 de fevereiro no bar Tokyo (na nova localização), em Lisboa. O que é que podes revelar sobre esse concerto de apresentação?
Posso revelar que começa às 22h00. Vai ser uma festa com muitos amigos meus músicos, muitas pessoas com quem trabalho e que admiro muito e com outras que admiro e com quem gostaria de trabalhar. O Tokyo, quando ainda estava situado na Rua Cor de Rosa, foi a primeira casa de música ao vivo que conheci quando voltei de Nova Iorque. Quando cheguei não sabia que se fazia música ao vivo daquele género em Lisboa. Foi quando me deparei com o Tokyo. É um lugar muito especial para mim. Vai ser uma noite cheia de surpresas. Vamos tocar o álbum ao vivo pela primeira vez. Eu e a minha banda maravilhosa. São todos músicos fantásticos. O João Gaspar, que é o guitarrista e o meu diretor musical, o Filipe Chaves, na bateria, o Gabriel Salles Silva, no baixo, e o André Mendes nas teclas. Vai ser uma noite cheia de alegria. 
 


 


 

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