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21 maio 2024
14:55
Redação

iolanda mostra 'Calma' com vídeo gravado nos bastidores da Eurovisão

iolanda mostra 'Calma' com vídeo gravado nos bastidores da Eurovisão
DR Cortesia Think Out Loud
A cantora e compositora portuguesa atua amanhã e na quinta-feira, no Capitólio, em Lisboa

Esta terça-feira, 21 de maio, iolanda partilhou o tema 'Calma', single que chegou com um videoclipe foi gravado durante a passagem da artista portuguesa pela Eurovisão, que este ano teve lugar na Malmö Arena, em Malmö, na Suécia. O novo tema chega depois do EP "Cura", editado em 2023, e sinaliza a nova fase artística que a cantora quer abraçar com a edição de um novo EP. 

O vídeo que ilustra a nova canção conta com a participação de alguns dos artistas que participaram na Eurovisão, como o suíço Nemo, vencedor da edição deste ano, o inglês Olly Alexander, a artista grega Marina Satti, a dupla finlandesa Windows95man e Henry, a eslovaca Raiven, Bambie Thug, da Irlanda, a artista de malta, Sarah Bonnici, e ainda Ladinava, a cantora da Arménia.
 
O novo ciclo da carreira da cantora começa com dois concertos em nome próprio. Amanhã, 22 de maio, e na quinta-feira, a 23, sobe ao palco do Capitólio, em Lisboa. A dose dupla de espetáculos (já esgotados) assinala também a primeira vez que iolanda atua em nome próprio.

A 1 de outubro, a artista portuguesa mostra as suas canções na Sala Suggia, na Casa da Música, no Porto. Antes disso, ainda vai passar pelo festival A Porta, em Leiria (15 de junho), ou pelas Festas do Bodo, em Pombal (26 de junho).   


A experiência na Suécia 

A cantora e compositora, que representou Portugal na 68ª edição do concurso com a canção 'Grito', ficou em 10º lugar na competição. Numa edição que ficou marcada pela contestação à volta da participação de Israel na competição, iolanda terminou a atuação com as palavras: "a paz vai prevalecer", tendo atuado com as unhas pintadas com o padrão do 'keffiyeh', o lenço que simboliza a solidariedade com a causa palestiniana.  

Antes de falarmos de qualquer outro assunto temos de falar da tua experiência na Eurovisão. Foi uma edição bastante atribulada. Como é que foi viver essa experiência?

Foi uma experiência intensa. Antes de dizer que foi uma experiência tensa, posso dizer que foi muito intensa. Mas também foi muito bonita. Criaram-se amizades muito bonitas. Para mim, foi uma experiência inacreditável. Aprendi muito. Aprendi com o bom e com o mau. A Eurovisão também é uma escola. Aprendi com tudo o que vivemos. Foram 16, 17 dias intensivos de trabalho, de preparação e de ensaios. E também tive de tirar algum tempo para tratar do lançamento de música nova. Aconteceu tudo ao mesmo tempo, mas, por outro lado, conseguimos matar dois coelhos de uma cajadada só.

Pelos vídeos que andaram a circular nas redes sociais, vimos que criaste uma amizade forte com representantes de alguns países, como é o caso da Bambie Thug, da Irlanda, do Nemo, da Suíça, da Marina Satti, da Grécia...   

Com o Silvester [Belt], da Lituânia, também. Com a malta da Noruega. O meu camarim estava ao lado do camarim da Ladaniva, da Arménia, que é uma menina muito simpática. Como eles tinham guitarras, juntávamo-nos para cantar e para fazer jams todos juntos. Foi muito giro. A dinâmica que criámos lá dentro aconteceu de uma forma muito natural. Não só porque estávamos geograficamente perto uns dos outros mas também porque partilhamos os mesmos valores. Havia uma energia surreal. Foi muito bom ter encontrado pessoas que acreditam nas coisas em que eu acredito. Foi ótimo.   

Numa edição muito contestada devido à participação de Israel no concurso, como é que te sentiste quando no final da atuação gritaste, "a paz vai prevalecer"?

Nos momentos que antecederam a minha entrada em palco, a minha cabeça estava um autêntico turbilhão. Tinha noção que aquilo que estava prestes a fazer ia ter repercussões. Mas a minha intenção nunca foi marcar uma posição política até porque a paz não é uma politiquice. Enquanto cidadã e antes de ser artista, figura pública ou de ter qualquer influência nas redes sociais, a paz é algo em que eu acredito. Todos nós, enquanto seres humanos, devíamos lutar pela paz. É óbvio que estamos a falar de uma situação geopolítica que envolve dois locais completamente diferentes e que se relacionam de uma forma que não é a correta. Mas nunca imaginei chegar ao ponto de testemunhar aquilo que está a acontecer [na Faixa de Gaza]. Quando comecei a cantar, passaram muitas imagens pela minha cabeça. Senti muitas emoções. O que pensei na altura foi: ‘se vou cantar para 200 milhões de pessoas, como é que posso ficar calada?’. E não fiquei. Usei a plataforma que tinha para, em primeiro lugar, promover a paz.


Fez-me todo o sentido ficar do lado certo da História. Eu já era pró-Palestina muito antes de sonhar que um dia poderia ir cantar à Eurovisão. A Palestina precisa de liberdade há mais de 70 anos. E vou continuar a apoiar essa luta. Apoio a Palestina, sim, mas nunca em detrimento da existência do outro povo. Isto não é um Benfica-Sporting. Todos têm direito a existir e a ter uma vida digna. Todos têm direito às necessidades básicas ou, se possível, a luxos. O que não pode é haver um que exista mais que o outro.      

Mas foi preciso coragem, não?

Senti alguma pressão, mas foi uma pressão que impus a mim própria, mesmo sabendo que não estava a fazer nada de mal. Não fiz aquilo com uma intenção política, por isso acho que nunca houve motivo para sofrer qualquer tipo de sanção. É certo que houve um atraso na publicação da minha atuação [nas redes sociais da Eurovisão], mas a causa desse atraso ainda está a ser apurada por quem de direito. De qualquer forma, senti que apelar à paz era muito mais importante do que o lugar no concurso. Nem sequer imaginei que apelar à paz pudesse ter uma repercussão negativa. Sempre vi isso como uma coisa positiva, embora perceba que provoque desconforto a algumas pessoas. Estou tranquila com esse desconforto. Consigo dormir bem à noite. 

Tiveste o apoio da RTP e da delegação portuguesa, presumo...

Acho que é importante que as pessoas percebam que naquele momento não estava a representar apenas Portugal. Também me estava a representar enquanto artista. A canção foi escrita por mim e pelo meu companheiro criativo, o Luar. Enquanto artista, também tenho uma voz. Quando disse "a paz vai prevalecer" não o fiz em nome de todos os portugueses, apesar de desejar que fosse. Falei em meu nome, enquanto a iolanda que é artista e que é uma pessoa. Represento a minha arte mas também sou as minhas vivências e os meus valores. Ainda assim, acredito que a maioria dos portugueses defende o caminho da paz. Acho que a maioria considera que é o caminho mais importante. Disse aquela frase porque é aquilo em que acredito. Fiz o que fiz sem ofender ninguém. Acho que temos de lutar pela concórdia e não pela discórdia.  

Apesar de ter sido uma edição tão conturbada, achas que o amor prevaleceu?

Sem dúvida. Acho que sim. Durante aqueles dias, criamos uma ligação emocional com o lugar e com as pessoas. Assim que chegámos a Portugal começámos a sentir falta dos outros. Voltar à vida real foi um pouco difícil. 

Achas que foste prejudicada por teres apelado à paz e por teres levado as unhas pintadas com um padrão relacionado com a Palestina?  

Honestamente não sei. Não consigo dizer nem que sim nem que não. Diria que não, porque ficámos em 10º lugar. Tivemos uma ótima pontuação do júri. Acho que fomos o segundo país a receber a pontuação máxima [12 pontos]. Não sinto que tenha sido prejudicada. Portugal é um país pequeno, é natural que tenhamos menos visualizações que outros países. Em relação ao atraso na publicação da minha atuação, posso dizer que, quando percebi que o vídeo não tinha sido publicado quando era suposto, achei estranho. Fez-me alguma confusão. Falei logo com a RTP para que tentasse perceber o que é que se estava a passar. E ainda estamos à espera. Está a ser investigado. Não achei correto mas não posso tirar conclusões sem ter a resposta da EBU [União Europeia de Radiodifusão]. Acho que, como usei um padrão cultural e não usei nenhuma bandeira, não infringi nenhuma regra. Do meu ponto de vista não tomei nenhuma posição política. Mas cada um tira as suas próprias conclusões. Vamos ter de esperar para saber qual é o veredicto final. 

Começaste a compor aos 14 anos, certo?

Sim. Mais coisa menos coisa. Nessa altura, escrevia poemas. A minha mãe sempre escreveu poesia e ajudava-me muitas vezes quando havia concursos de poesia na escola. Lembro-me perfeitamente de ter declamado o poema 'Lágrima de Preta' [de António Gedeão] num desses concursos. Acho que o bichinho da poesia sempre existiu. Sempre achei muita piada às palavras. Gostava de misturá-las, de fazer rimas. O bichinho ficou ainda maior quando, no décimo ano, comecei a estudar poesia na escola. Às vezes, até começava a brincar com as palavras no meu caderno e perdia-me na aula. Mais tarde, comecei a tocar guitarra. Tinha 18 anos quando o meu pai me comprou a primeira guitarra. Passei três anos sem saber tocar um único acorde mas estava sempre a tentar dedilhar. Acho que foi o que mais me custou aprender. Já tinha tocado outros instrumentos, mas nenhum desses instrumentos me deu tanta liberdade como a guitarra. Também gosto do piano. É um instrumento muito completo para compor, mas como não o domino totalmente quando toco é mais para curtir. E é esta a história. Comecei a escrever poemas aos 14 e a musicá-los aos 16. 

E escrevias sobre o quê?

Sempre fui muito sofrida. Sou assim desde miúda. Sempre sofri muito com tudo o que acontece no mundo. Acho que sempre fui muito dorida nesse sentido. Tive as minhas primeiras relações românticas aos 16, 17 anos, como uma adolescente típica, mas nas canções ia sempre ao fundo da questão. O sofrimento, o coração, a dor. Eram temas desse género. Era tipo Adele. (risos) Hoje em dia já consigo ir para outros lados. Já exploro outro tipo de ligações, de conexões. Outras sensações com o mundo, com outras pessoas. O 'Grito', por exemplo, é uma canção que tem a ver com o processo de conseguir ter confiança não só com o outro mas também comigo própria.          

Achas que a tua geração de artistas está a usar a criação para fazer-se ouvir em questões mais amplas, que dizem respeito a todos?

Cada vez mais. É uma geração que fala sobre as coisas em que acredita. Acho que isso é muito importante. As redes sociais acabam por dar uma plataforma a toda a gente. Com mais ou menos seguidores, a verdade é que toda a gente pode expressar a sua opinião. Há muita gente que diz que o artista deve fazer música e ponto final, mas eu acho que isso é impossível, tendo em conta que vivemos em sociedade. Eu também voto. Também tenho as minhas conceções políticas. E não as incluo nas minhas canções por uma questão de estética. Ou seja, não faço música de intervenção, mas há sempre uma intenção quando se põe algo no papel. Pode ou não ser uma intenção política. Às vezes, é. Um artista deve fazer o que lhe apetece desde que não interfira com a liberdade de outros. Tal como acontece na vida. Um artista só é livre se tiver liberdade para falar das suas convicções. Se um artista tiver uma opinião política, deve expressá-la. Também é um cidadão. Agora tudo depende da escolha de cada um. A minha geração está bem ciente de tudo o que está a acontecer. Veremos o que é que o futuro nos reserva. 

O teu EP chama-se "Cura". Qual é a razão deste título?

Lá está. Voltamos à fase em que escrevia sobre o amor. Sobre o amor para todo o sempre. (risos) O EP é sobre uma relação que, embora tenha durado menos de um ano, só terminou efetivamente algum tempo depois. Ainda houve um período de reencontros. Naquela altura, fazia muito sentido para mim escrever sobre as minhas vivências. Agora é que começo a sair dessa bolha. Por volta dos 17 anos, comecei a compor os temas sem me aperceber que estava a fazer um EP. Já lá vão 10 anos. O primeiro tema que escrevi foi o 'Lugar Certo'. É uma canção que fala sobre sair do lugar certo, sendo que o lugar certo era a relação onde estava. Entretanto, fui para Londres, onde estive a estudar songwriting, e só quando voltei a Portugal, depois de novas descobertas e de perceber o que fazia mais sentido a nível sónico, é que comecei a trabalhar no EP de uma forma mais séria.


Tinha material e avancei. Foi quando percebi que continuava a ter necessidade de reviver o que aconteceu e comecei a refletir sobre isso. Sobre as saudades que tinha do que tinha vivido e até sobre a irritação que sentia com o que aconteceu. Sentia, pelo menos, quatro ou cinco emoções diferentes. Cheguei à conclusão que o EP seria para falar das diferentes fases de uma relação. No início pensei que podia ser um pouco cliché mas depois senti que era mesmo o que queria fazer. Chama-se "Cura" porque o processo de escrita foi realmente um processo de cura. É uma viagem entre o início e o final da relação. A relação terminou bem. Hoje em dia somos amigos. (risos)

O músico e produtor Luar tem sido um grande companheiro criativo. Já estão completamente conectados no campo da criação, certo?

Estamos muito conectados. O Luar é o meu braço direito na música. Criámos mesmo uma conexão. O produtor é quem te lê. É quem lê a tua música. É quem a percebe.  Eu fui a primeira pessoa com quem ele produziu, mas agora ele já trabalha com uma série de artistas. Também tenho gostado de trabalhar com outros produtores. Já trabalhei com o Left, com o Ned Flanger. É importante explorar um leque diferente. É algo que acrescenta. 

E o que é que podes contar sobre aquele que será o teu álbum de estreia?

Estamos na fase de lançar canções novas. Fui para a Eurovisão fazer tudo e mais alguma coisa. Fiz canções novas e até gravei o videoclipe [da canção 'Calma']. É a fase que chega depois do "Cura". É a tal fase em que falo mais sobre mim e não tanto sobre a relação [que retratei no EP]. É um capítulo novo.  

Vais mostrar as novas canções nos concertos, presumo... 

Sim. Vamos apresentar alguns temas novos. Um concerto é um espaço de liberdade. E dá para testar as canções. Como são os meus dois primeiros concertos em nome próprio, quero dar alguns presentes às pessoas. Quero perceber o que é que sentem quando ouvem as canções, o que acham dos temas. Isto só faz sentido se for uma colaboração com o público. Somos como uma família. 

E vais levar os bailarinos da coreografia do 'Grito'?

Isso é surpresa. (risos) 


 

     

           
   

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