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11 julho 2024
22:23
Gonçalo Palma

NOS Alive: um temporal dramático chamado Benjamin Clementine

NOS Alive: um temporal dramático chamado Benjamin Clementine
Rúben Viegas
Pianista deu aquilo que tem, a alma, no palco maior do festival de Algés.

A imagem de Benjamin Clementine é carismática. Aquela carapinha tem uma forma invulgar que é a sua assinatura digital. Parece um mendigo um bocadinho mais vaidoso com aquele blazer de veludo sobre o tronco nu e pés descalços. 

Atrás de si estão dez músicos e um ecrã onde rodam imagens de Clementine, como se fossem videoclipes das suas músicas. A erudição do septeto de cordas e os arranjos eletrónicos batalham para se aliarem. E pelo meio há a presença assombrosa de Benjamin Clementine, que canta a olhar para o público, na procura da cumplicidade, de guitarra acústica na mão. Como ser inquieto, procura sempre alguma coisa, talvez um crescendo. 

Benjamin Clementine gosta de passear pelo palco e de olhar nos olhos dos espectadores. Mas é sentado ao piano que se torna mais especial, onde carrega na espiritualidade, com a banda em repouso e um silêncio desejado à volta - não fosse o ruído permanente das milhares de conversas paralelas à volta.

Em 'Condolence', tenta simpaticamente a tradução para português e quase que consegue dizer "condolências".  O seu rosto austero vai aliviando e sorrindo cada vez mais, mesmo quando entra em dramas cabaret ao piano, como no tema 'Nemesis'. Dá um show ao piano tão grande que nos esquecemos que tem um septeto de cordas em trabalhos atrás. Tem drama e alegria em 'Adios'. As mãos estão em polvorosa nas teclas do piano, com a voz de Benjamin Clementine a projectar-se cada vez mais e a provocar um temporal sentimental. São tragédias amorosas despejadas ao piano com magia, em músicas como 'I Won't complain', 'Genesis' ou 'Cornerstone'. 

As músicas por vezes pediam um silêncio sepulcral, mas Clementine quis a alegria do público. E teve-a, no Palco NOS, diante de uma multidão que já tinha outras bandas em vista.

Mais de duas horas antes, às 18h00, ainda não havia ação no Palco NOS e o calor apertava. A única enchente humana estava a acontecer no hangar do Palco Heineken, com as canções que se apegam bem ao ouvido do quarteto Unknown Mortal Orchestra. O vocalista e líder Ruban Nielson confortava-se atrás daqueles óculos escuros, sem se dar, com um energia q.b., como se fosse um bocadinho preguiçoso mas de estética apurada que lhes dá um som distinto. Com o apoio de pinceladas de prog-rock dos teclados, Ruban Nielson é capaz de nos cantar com a maior das calmas os problemas existenciais do íntimo. Aliás, calma foi o que não faltou àquele rock recolhido, perfeito para finais de tarde. 

Entre os concertos de Unknown Mortal Orchestra e de Benjamin Clementine, passou pelo Palco NOS o som muitíssimo amplificado e, vá, barulhento dos Nothing But Thieves, com “18 meses de estrada” seguidos a sentirem-se no palco e uma versão da balada mítica dos Pixies, ‘Where Is My Mind’, a uma escala mais terrena e mortal.

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