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28 julho 2018
00:50
Gonçalo Palma

Van de luxo

Van de luxo
Grande enchente no Hipódromo Manuel Possolo para ver esta noite no Cool Jazz o lendário cantor norte-irlandês Van Morrison.

Quando o concerto de Van Morrison começou pontualmente às 20h30, o sol ainda brilhava no céu. A enchente que veio a acontecer anunciava-se na fila gigante que cercava o recinto do EDP Cool Jazz, junto ao Hipódromo Manuel Possolo, muito antes do espetáculo.

A lenda norte-irlandesa entra com o seu fato listado impecável, o inconfundível chapéu e uns óculos escuros cúmplices com a sua pouca vontade em comunicar com o público... Falta falar do seu companheiro saxofone, o primeiro som que fez sair de se si mesmo junto ao microfone.

Van Morrison contou com um sexteto, onde cada um tem que fazer pela vida, isto é tem que se desenrascar em vários instrumentos - a dupla feminina de coros tinha também pergaminhos  na percussão e até no xilofone, o trompetista é também organista, o baixista tem que ter arcaboiço para o contrabaixo, o guitarrista também dedilha o piano, só o baterista não mostrou um outro atributo.
 
Hold It Right There inicia o concerto de 100 minutos, Can't Tell, uma versão de Bo Diddley, surge pouco tempo depois. O concerto quase segue em piloto automático, como Van The Man gosta, sempre agarrado ao suporte de microfone, enquanto canta ao seu estilo muito próprio. O seu perímetro é limitado ao lugar do microfone principal e onde poisa o saxofone e dali não sai. Às vezes, entorta-se mais um pouco quando puxa mais pela voz.

Baby Please Don't Go cintila mais no alinhamento que ouvido em palco, numa versão mais idosa que aquela endiabrada interpretação do tempo juvenis dos Them,quando corriam os dias loucos do garage-rock. A interpretação deste clássico rebelde dos anos 60 implica um medley com clássicos dos blues com que os Them já se metiam. E Van acrescenta-lhe mais um condimento querido aos blues: a harmónica. Como a sua banda, o homem é um multi-instrumentista e faz o mapa americano todo, coast to coast.

Depois da corrida pelo asfalto e pelos blues, Van aninha-se no maior intimismo de 'Days Like This'. 'Moondance' pareceu este sábado um pouco mais cansado que a versão de estúdio - só por um dia não acertou em cheio no maior eclipse lunar do século.  Ao fim de mais de meia-hora em palco, ouve-se do cantor um acanhado "thank you so much".

O saxofone de Van Morrison e o trompete foram trocando correspondência musical em vários temas. Ao longo do concerto, vai-se sentindo uma panóplia estilística americana que é quase coincidente com a da banda de Bob Dylan. À semelhança deles, também a formação de Van Morrison gosta de transfigurar alguns temas, foi o que ocorreu com 'I Have I Told You Lately', que em Cascais esteve mais corridinho e menos balada.

De repente, o público manifesta-se mais quando reconhece logo aos primeiros acordes do tema dos anos 60 'Brown Eyed Girl'. A plateia sentada assemelha-se a uma árvore de Natal faiscante, com muita gente a fazer questão de registar o momento nos seus smartphones. Mas o melhor ainda estava para vir: as várias plateias levantaram-se para o tributo devido a Van Morrison e a 'Gloria'. Este tema de sete vidas é absolutamente icónico do rock & roll. A música torna-se uma longa jam com vários solos. A canção final ainda não ia a meio quando o pequenino Van saíu do palco.

 

 

 

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