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25 setembro 2020
18:51
Gonçalo Palma

08/80: álbum homónimo sai no final de outubro

08/80: álbum homónimo sai no final de outubro
DR (cortesia Universal Music)
O músico Nuno Simões apresenta-nos o seu projeto que reinventa os anos 80.

O álbum de estreia do projecto de versões 08/80, de título "08/80", sai no final de outubro e conta com 12 faixas. A juntar às interpretações já conhecidas de 'I’m Gonna Be (500 Miles)' dos Proclaimers e de 'Efectivamente' dos GNR, juntam-se no longa-duração as versões de 'Demagogia' de Lena D' Água & Banda Atlântida, 'Só Gosto de Ti' dos Heróis do Mar ("drasticamente diferente", segundo Nuno Simões), 'Anzol' dos Rádio Macau (numa versão ao que parece "irreconhecível"), 'Crazy for You' de Madonna, 'Run to You' de Bryan Adams, 'Words (don't come easy)' de F.R. David , 'My Sharona' dos Knack ou 'Bette Davis Eyes' de Kim Carnes. 
 
O multi-instrumentista e arranjador Nuno Simões e o baterista Sérgio Nascimento estruturaram os 08/80, onde cantam Catarina Falcão, Carolina Torres e Filipe Gonçalves.  
 
Nuno Simões, que entrevistámos, conta-nos que a aceitação das versões dos 08/80 pelos autores das canções tem sido "mais positiva" do que Nuno Simões estava à espera, sobretudo no contacto direto com os músicos nacionais. Por exemplo, Rui Reininho "aceitou entrar no vídeo porque adorou" a versão. A nível internacional, houve apenas o sinal de aprovação, sem curiosamente nunca ter havido qualquer rejeição. 
 
O nome 
Escreve-se 08/80 mas, segundo Nuno Simões, a fonética deve ser “oito ou oitenta”. A ideia do nome "é a adaptação de música dos anos 80 que fosse transversal. Na verdade, os anos 80 são um bocado transversais às gerações. Se fores a ver, os miúdos de 16 anos de hoje ouvem música dos anos 80 mas não ouvem música dos anos 90, que, supostamente, está mais perto da geração deles. Os anos 70 ou os anos 90 não tiveram o impacto que tiveram os anos 80. Daí a escolha do nome".   
 
O começo 
Nuno Simões formou o núcleo dos 08/80 com o baterista Sérgio Nascimento, com quem já tinha partilhado várias experiências musicais. "Quando fomos apresentar a ideia à [editora] Universal, tentámos marcar a reunião com alguma antecedência. Quando lhes apresentei o projeto, eu já levava dez canções. Até eles aceitarem, ainda demorou uns tempos, ainda escolhi algumas músicas, para pesquisar o que seria melhor e o que se adaptava para a actualidade ou não. A coisa foi crescendo ao longo do tempo, até ter o disco ficar acabado". 
 
As vozes 
A escolha do trio de cantores foi posterior. "Quando levei o projeto à Universal, já era a Catarina a cantar. Eu e o Sérgio tocávamos numa banda com a Catarina e ela precisou de ir ao meu estúdio gravar umas vozes. E eu disse-lhe: 'grava-me só isto aqui para ficar mais apresentável'. A Universal gostou muito da voz dela e pediu-me para ela ficar".  
 
Mas a ideia de trio vocal já estava em mente. "A Carolina foi uma escolha um bocado óbvia porque tem aquela imagem mais rock e mais excêntrica. Depois, lembrei-me do Filipe. Estava um bocado difícil escolher cantores. Em Portugal, é muito difícil escolher cantores homens. Ele foi uma escolha única no fim", também por uma questão de indisponibilidade de cantores masculinos. 
 
A ideia de ter três vozes diferentes como se fossem três instrumentos contrastantes não é assim tão fácil. "Às vezes é um bocado complicado conseguir unir os três, principalmente quando eles são tão diferentes. A Catarina tem uma voz muito doce e é muito dada a canções lentas e tristes. A Carolina é o oposto da Catarina e o Filipe é o cantor mais pop da banda. Às vezes, é difícil fazer essa colagem entre eles. O disco ia assentar muito em duetos e em trietos. A escolha das canções é feita nessa base. Temos uma canção que é o 'Crazy for You' da Madonna. O original não é nenhum dueto, mas é uma canção de amor e dava para fazer isso. Houve muitas que ficaram de fora porque não davam para pôr no disco, mas que provavelmente vamos tocar ao vivo. Não é o caso do 'Efetivamente', que é só a Catarina a cantar. Depois, temos a Carolina a fazer as segundas vozes".   
 
O álbum "08/80" não vai ter vozes convidadas, mas Nuno Simões gostava de no futuro poder "convidar o Rui Reininho e os [outros] cantores originais das músicas portuguesas" nos concertos do grupo. 
 
As línguas 
Os 08/80 são um projeto bilingue que podia ter-se tornado trilingue. "Tinha duas músicas na calha, uma em alemão, do Falco, e outra em francês, do Desireless (o 'Voyage Voyage'). Só que já é tão difícil colar português com inglês em relação a três cantores, eu comecei a pensar: 'não vai funcionar'. Desisti da ideia, embora não por completo". 
 
A própria alternância entre português e inglês tem alguns entraves. "A música em inglês nos anos 80 era muito pop. A música  portuguesa nos anos 80 era muito mais política, com letras muito interventivas, apesar de estarmos num período pós-Zeca Afonso. Muitas vezes, as letras [portuguesas] são muito agressivas. E a música anglo-saxónica não era assim, as letras eram mais leves, sobretudo na música norte-americana. Essa foi outra dificuldade: encontrar canções portuguesas que fossem parecidas com as inglesas".    
 
Nuno Simões confrontou-se também com as grandes diferenças entre as estruturas das canções anglo-americanas e as músicas portuguesas. “As estruturas anglo-saxónicas eram praticamente as mesmas que se usam hoje em dia: verso - introdução - verso - refrão - verso - refrão - instrumental - refrão. As músicas portuguesas feitas na altura, além de terem seis minutos, tinham dois solos instrumentais. Isto hoje em dia seria impensável. As músicas em inglês já estavam muito mais preparadas, eram muito mais adaptáveis em termos de estrutura, mesmo a nível de acordes. Temos uma versão da 'Demagogia' da Lena D' Água, em que a música tem cinco minutos e tal, com dois solos, um de guitarra e outro de saxofone durante a música. Isto não faz sentido hoje em dia”. 
 
De fora deste pingue-pongue entre canções em português e em inglês está a grande fonte da música brasileira. Mas Nuno Simões confessa não ser "grande fã de música brasileira, muito menos dos anos 80". 
 
Onde reside a diferença do projeto  
Atendendo ao facto dos 08/80 não serem o primeiro projeto de revisita dos anos 80 do século passado, o que terá o novo colectivo de diferente para oferecer? Para Nuno Simões, essa diferença está "na escolha das músicas e na maneira como abordamos as canções. Aqueles projectos que foram para a estrada e para discos eram muito específicos. Os Humanos faziam música do António Variações. Os Despe & Siga também faziam versões dos anos 80 mas em ska. É quase como se tivéssemos uma banda da altura mas a fazer canções de agora. Não é nada muito específico, é mesmo transversal. É tentar reavivar aquilo".  
 
Há também o caso da transversalidade dos Resistência, mas numa vertente acústica, oposta à abordagem mais eletrónica dos 08/80. "Os projetos que havia eram de tributo a outros artistas. Isto não, é como se pegássemos em músicas que já existiam e tivéssemos feito músicas novas. Na realidade, há músicas que as pessoas nem sequer vão reconhecer. Só quando entrar a letra. Houve algumas em que alterei os acordes das músicas, só a letra e a melodia da voz é que ficaram iguais. Não é apenas tocar a música, é mesmo reinventá-la. Foi uma coisa que tentámos fazer e acho que conseguimos". 
 

 

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