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02 abril 2020
18:10
Redação

Valter Lobo: "quando carregarmos no play novamente, quero acreditar que o mundo vai ser outro"

Valter Lobo: "quando carregarmos no play novamente, quero acreditar que o mundo vai ser outro"
Teresa Pamplona
O músico Valter Lobo também escreveu algumas palavras sobre os novos tempos que estamos a viver.

 

A poeira ainda não assentou e milhares de coisas foram ditas sobre este episódio vírico numa situação de histeria colectiva. A Natureza deu um alerta e este deve ser entendido: é tempo de parar, pensar, reflectir sem olhar ao espaço. Analisarmos quem somos. E daqui partirmos para o plural, para a sociedade.
 
Na arte, cultura e indústria do espectáculo, se é que ela existe, não foi diferente. Uma série de comunicados, protestos e ensaios sobre o sector são disparados quase como reflexo. De repente tudo está mal quando, na verdade, nada estava bem. Não me recordo de os artistas e profissionais da área cultural terem um estatuto profissional que lhes garantisse uma profissão mais segura e com dignidade durante todo o ano, com ou sem vírus. E falo com alguma maior sensibilidade para os mais pequenos, de toda a parte do país e que não cogitam à volta das grandes estruturas e dos meios de comunicação.
 
A meu ver, a prioridade neste momento é encontrar a sobrevivência colectiva pois é isto que nos deve definir como cidadãos e humanos. Apoiar na parte financeira mas principalmente  na física e mental. Nada mais importa do que isso. A arte e cultura, como outros sectores foram e serão bruscamente atingidos. Não é altura de haver mais privilegiados do que outros. Sou artista mas olho sempre primeiro para o bem comum, sem grande paciência para protagonistas em tempos de guerra com bandeiras temporárias.
 
À parte de vidas perdidas e saúdes debilitadas, talvez esta tormenta seja, depois do seu final, regeneradora do pensamento e comportamento humanos. Ressalve-se e valorize-se a parte humana, o que nos é necessário para o nosso bem estar e conforto sem atropelar o outro. No campo das artes, que o olhar seja mais abrangente e se dê valor a quem realmente cria e exprime de forma inata, quem o faz por paixão e acrescenta, que se afastem corpos tóxicos que a corrompem.
 
Vamo-nos aguentar uns tempos! Arranjar armas para que quem faça parte do mundo da arte e cultura e não o viva como um mercenário, tenha um estatuto social e fiscal equivalente ao bem que traz ao mundo. Quando carregarmos no play novamente, quero acreditar que o mundo vai ser outro.
 
Valter Lobo

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